Entrada Proibida

A busca pela foto perfeita numa paisagem ou restaurante que todos desejam tem feito turistas e influenciadores se tornarem personas non grata

Tá, tá bom, eu vou confessar: também quero tirar uma selfie perto das ruínas do Pathernon, ou nas ruas de Veneza ou numa praia das Filipinas. Eu sei que você também quer.

O que acontece é que a busca interminável pela foto perfeita para você postar no seu Instagram está fazendo com que vários destinos ao redor do mundo repense toda a questão do turismo. Será que destruiremos as mais belas paisagens por uma foto na timeline?

Proibido turistar demais

A coisa já está ficando séria. Você já deve ter visto o lugar aí em cima: se chama Maya Bay e fica na Tailândia. Em 2018, por conta da multidão de turistas por todos os lados, ela já estava assim (vide abaixo).

É um retrato da multidão de turistas que vai para lá apenas atrás da foto icônica no lugar icônico. Isso fez com que as autoridades fechassem o acesso a esta baía, com objetivo de preservar o local do acúmulo de visitantes e o transtorno que isso é para a natureza a também para as pessoas que moram lá. No caso de Maya Bay propriamente, durante 4 meses por ano, é proibida a entrada de visitantes para que a natureza possa se recompor do desgaste ambiental.

Esse fenômeno que veio com a chegada das mídias sociais é chamado de Overtourism: o mesmo lugar famosão mundialmente, repleto de turistas para todos os lados, em busca da mesma foto, no mesmo point – que pode ser uma simples praça que foi cenário de Game of Thrones. Não importa. O que importa é garantir o seu feed atualizado.

Praça de Dubrovnik, na Croácia, cheia de turista só por ter sido cenário da série de TV.

Agora, pense como uma pessoa que mora neste lugar: Veneza, Bali, ou até a Islândia. A sua vida não está sendo fácil, porque os aluguéis aumentam, os mercados projetam preços mais caros – tudo por conta da presença de turistas. O custo é tão alto que os habitantes do lugar saem nas ruas, para protestar. Foi o que aconteceu em Veneza, em junho de 2018: os venezianos tomaram os espaços públicos contra o turismo excessivo e a presença dos cruzeiros internacionais.

Influenciadores não entram

Ok. Cancelamos a viagem para Tailândia no alto verão. Vamos ficar por aqui mesmo. Tá, mas para onde ir? Pensa rápido e busque pelo influenciador digital mais perto ou vá atrás daquela hashtag “O que fazer em [diga o nome para onde você vai]”. Simples, né?

Você, outros consumidores, marcas e os próprios influenciadores já perceberam isso: é uma fábrica de milhões. Segundo dados da consultoria Stats, o marketing baseado em influenciadores já ultrapassou os US$ 20 bilhões em todo o mundo só em 2023. Crescendo como indústria, bombando nas plataformas sociais e trazendo mais rendimento para marcas e os tais criadores de conteúdo.

Só que, na contramão de tudo isso, muitos restaurantes, cafés e points descolados em geral já estão banindo os influenciadores digitais de lá. E as razões para esta decisão são muitas. A maior delas é que o local pode não ter estrutura suficiente para receber todos os visitantes que aparecerão por lá depois de “hyparem” na timeline como Dica do Final de Semana daquele (ou daqueles) influencer(s) que você segue.

Outro fator importante é o transtorno que o próprio produtor de conteúdo – e seu clã de seguidores – podem trazer ao lugar. É se instalar, trazer todo o seu equipamento de luz e gravação, produzir centenas de fotos e vídeos para reels e stories. Tudo isso sem consumir nada. Ou bem pouco. Vale a pena incomodar seus clientes habituais e “morrer de sucesso” para isso? Pense aí antes de convidar alguém para fazer uma #publi para você.

Entre em modo avião

A superficialidade de todo esse universo das mídias sociais – seja pelo conteúdo raso de influenciadores, seja pela meta de “conhecer XX países em YY semanas” –  têm feito muita gente entrar em modo avião. E não somente quando viaja.

O fenômeno é mais comum entre as novas gerações. O relatório The Future of Social Media publicado pela Dazed Studio mostrou que a galera entre 19 e 25 anos foi o público que mais reduziu o consumo via redes sociais nos últimos anos. A principal razão para isso seria uma mudança de prioridades: buscar uma relação real e íntima com alguém, o uso dos seus dados pessoais pelos sites, e ter uma visão mais crítica sobre o funcionamento de Instagram, Twitter, Facebook etc.

Outro estudo, desta vez pela Trustpilot, apontou que dois terços dos entrevistados confiam pouco no que é publicado pelos influenciadores digitais. De uma forma mais abrangente, seria como não levar tão a sério o que toda essa propaganda em rede social disponibilizada por aí.

Com informações do The Summer Hunter, ABC News, IMDb, BBC News e Mashable.

Imagens de Pexels, Flickr e ABC News.

Um comentário sobre “Entrada Proibida

  1. Uma das minhas músicas preferidas diz: “aqui estamos nós, começando a questionar se vivemos o momento ou filmamos pra guardar”. Essa tensão virou um ponto de reflexão minha quando viajo, sozinho ou com pessoas queridas. Por ter crescido em um lugar que poderia estar na lista desse post, eu tento encontrar um ponto onde eu consiga aproveitar o momento e registrar algo… E quem disse que precisa ser igualzinho à referência que está num reels que compartilhei com quem quero viajar?

    Cada dia estou convencido que a criatividade resolve tudo.

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